Mesmo com embargo chinês, exportações de carne bovina passaram de US$ 9 bi
em 2021, diz Abiec
Por Rafael Walendorff — De Brasília
04/01/2022
Apesar das complicações com o longo embargo imposto no ano passado pela
China, o principal comprador da carne bovina do país, as exportadoras brasileiras
do segmento atingiram um novo recorde de faturamento com as vendas externas,
com mais de US$ 9 bilhões em embarques em 2021. O recuo no volume das
exportações foi compensado pela alta de 16,13% no preço médio da proteína, que
chegou a mais de US$ 5 mil por tonelada.
A expectativa para 2022, com o retorno da China às compras e a possibilidade de
novas aberturas de mercado para produtos e destinos, como Canadá, Coreia do
Sul e Japão, é de que a receita chegue pela primeira vez à casa dos US$ 10 bilhões,
segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). A
reabilitação de 12 plantas brasileiras pela Rússia também pode favorecer os
negócios neste ano.
O presidente da entidade, Antonio Jorge Camardelli, prevê que o volume
exportado deverá voltar para a casa de 2 milhões de toneladas de carcaça
equivalente, patamar alcançado pelo setorapenas em 2020. No ano passado, foram
1,8 milhões de toneladas enviadas ao exterior de acordo com as projeções da
entidade.
“Nós nos preparamos e cuidamos do nosso produto para não haver problema lá
fora. A perspectiva é estar pronto para responder à demanda e com preço da arroba
extremamente remunerador ao produtor”, disse Camardelli ao Valor. A ausência de
compras chinesas entre os dias 4 de setembro e 15 de dezembro não deixou
nenhuma “mácula” com o maior parceiro comercial do setor. “Fora os percalços
financeiros e a sequência comercial que foi interrompida, o maior prejuízo que
poderíamos ter era a ausência do nosso produto nas gôndolas da China, e isso não
aconteceu”, explicou. Com a existência de estoques dos importadores asiáticos e a
liberação da entrada da produção certificada antes do embargo, não houve quebra
de margem nas empresas nacionais, segundo Camardelli.
Os últimos 15 dias de dezembro reforçaram o otimismo da indústria exportadora.
Com a retirada da suspensão, a China já comprou 20 mil toneladas de carne bovina
brasileira nesse período. “O fluxo está normal com a China. Já vínhamos
conversando um pouco. No momento que [a China] reabriu, o processo comercial
se fez automaticamente”, relatou. O fim do ano também reservou a abertura do
mercado da Malásia para cortes com ossos e miúdos.
Busca por mais clientes
Camardelli disse que a “dependência” da China tem que ser desmistificada, já que é
um mercado com o qual o setor mantém um excelente relacionamento e faz
negócios com “100% de sucesso”. A saída, segundo ele, é conseguir uma maior
abertura comercial, com a conquista de mais clientes em termos de destinos e
produtos.
“A gente tem que sair atrás de alternativas contínuas no processo, com a abertura
de novos mercados, como Coreia do Sul, Japão, Taiwan, Canadá e México. Somados,
eles representam 40% das importações mundiais e não tenho liberdade para vender
para eles ainda. É isso que regula mercado”, afirmou.
A perspectiva é que as negociações com o Canadá avancem no primeiro trimestre
deste ano. “A maior ou menor dependência é regulada pela continuidade de
abertura de mercado”, disse.
O Japão importa mais de 700 mil toneladas de carne bovina por ano e a Coreia do
Sul, 500 mil. Quase 80% disso sai dos Estados Unidos. “Queremos uma fatiazinha
desse processo. Não vamos roubar mercado, pois ele se adequa”, projetou
Camardelli. “Não somos competidores pelas características de carne, somos
parceiros”.
A capacidade de produzir em larga escala e de atender essas especificidades nos
produtos enviados para a China e outros importadores sustenta o otimismo. Uma
das apostas é na expansão das venda de carne gourmet, que é mais rentável, mas
cujo mercado é comandado por Estados Unidos, Argentina e Austrália.
“Na hierarquia financeira, a carne gourmet vale muito mais e o consumidor não
retorna para as carnes de outro padrão”, disse o executivo. “O Brasil é o único player
em volume capaz de abastecer as especificidades de cada país e esse é um dos itens
que nos proporciona cenário bom para 2022”.
A crescente pressão ambiental sobre os produtos brasileiros não deve ser empecilho
para os negócios, avaliou o presidente da Abiec, devido aos compromissos
assumidos pelo Brasil e pelas regras rígidas que os frigoríficos exportadores são
obrigados a seguir. O problema, segundo ele, está na dificuldade de trabalhar com
conceito de “boi indireto” e na falta de homogeneidade dos requisitos cobrados dos
estabelecimentos que vendem internamente. “Os produtos que exporto são iguais
aos que mando para o mercado interno. É preciso resolver esse nó, senão não
vamos avançar”, concluiu.